Publicação: 24/05/2016
Lojista e shopping devem atuar juntos contra fechamento de lojas
O diretor de Inteligência do GS Group, Fernando Gibotti, fez uma análise sobre o fechamento de lojas nos Shopping Centers para o jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto-SP. “Lojistas e shoppings precisam trabalhar juntos para encontrar meios de atrair o consumidor. É preciso equilibrar os interesses e ser mais criativo”, afirmou o especialista em varejo. Levantamento do jornal constatou que aproximadamente 115 espaços estavam fechados no dia 20 de maio, pelos mais diversos motivos.
Gibotti afirmou que o momento atual exige criatividade do empresário e pode ser uma oportunidade para os lojistas conquistarem mais espaço dentro dos centros de compra. Veja a reportagem completa.
Alguns estão em reforma, outros estão sendo preparados para o lançamento de novas marcas e uma parcela está realmente vazia. O total é aproximado porque há espaços em que o tapume cobre uma área que pode servir para apenas uma grande loja ou duas ou três lojas de pequeno porte. Como o levantamento foi feito pela primeira vez, não há números de anos anteriores para comparação, mas frequentadores assíduos conseguem notar a diferença.
Mas esse não é um problema só de Rio Preto. Uma pesquisa da unidade de shopping, varejo e imobiliário do Ibope Inteligência mostra que a vacância média nos shoppings centers brasileiros inaugurados nos últimos três anos é de 45%. Isso significa que do total de 13,4 mil lojas lançadas nos 77 shoppings inaugurados no país entre 2013 e 2015, aproximadamente 6 mil estão desocupadas. No geral, a situação de Rio Preto é melhor que a média nacional. Segundo a pesquisa do Ibope, 15% das lojas existentes estão vagas em todo o Brasil.
Em Rio Preto, o estoque é de aproximadamente 13%. Para o presidente do Sincomercio, Ricardo Eladio Arroyo, esse cenário é prejudicial para Rio Preto, mas o futuro promete ser melhor. “O comércio é a base da nossa economia. Atrapalha muito o nosso desenvolvimento. Mas acreditamos em uma melhora em breve. As expectativas são positivas para o futuro. Sabemos que até o final de 2016 teremos que lutar muito, mas as perspectivas são melhores para 2017.”
O sentimento de esperança é compartilhado pelo presidente da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp). “Algumas dessas lojas que fecharam são grandes redes que estão se reestruturando. É um remanejamento, o empresário está sendo criativo e fechando lojas deficitárias para focar nas que estão melhores. Esse é um momento para o empresário ser criativo e também pode ser uma oportunidade para os lojistas locais conquistarem ainda mais espaço dentro dos centros de compras.”
Custos
Segundo o consultor, Fernando Gibotti, especialista em varejo, uma sequência de problemas leva a esse crescimento no número de lojas vagas, começando pelas finanças, afinal, ter um empreendimento em um shopping traz gastos extras que lojas de rua não possuem. “Nos shoppings, além de pagar o aluguel, que costuma ser mais caro, os lojistas têm taxa de condomínio e fundo promocional todos os meses.
Se ele está na rua, ele não é obrigado a investir em marketing e, mesmo que vá investir, ele pode decidir quanto, não tem um valor determinado. Também existem os custos trabalhistas. O horário de trabalho nos shoppings obriga o lojista a ter o dobro de funcionários, por causa dos turnos. Com isso, seu custo com mão de obra é muito mais elevado que o de um lojista de rua. Em tempos de euforia dos consumidores, esses gastos não pesam tanto para os lojistas. Já em tempos de incerteza, como volume de vendas em queda, as contas corroem os ganhos e não sobra quase lucro.”
O despreparo dos lojistas também desempenha papel importante nesses fechamentos, afirma o consultor. “Houve uma euforia muito grande entre 2012 e 2013 e grande parte dessas lojas que fecham hoje em dia são de pessoas que abriram seus negócios naquela época sem terem nenhuma experiência com comércio.” Outra questão que influenciou o crescimento no número de espaços não ocupados foi o boom de oferta recente.
“Em poucos anos, Rio Preto ganhou vários novos shoppings e expansões. A oferta de lojas cresceu muito rápido e, enquanto há público frequentador para esse número de shoppings e de lojas, ainda não há lojistas suficientes. Para muitas marcas, apenas uma loja na cidade já é suficiente. No entanto, isso não quer dizer que esses espaços não serão ocupados, só vai levar um pouco mais de tempo”, diz Gibotti.
Mas a dificuldade não se restringe aos lojistas. Os shoppings também sofrem. Além da redução de oferta, há um aumento nos gastos para os locatários. Sem o lojista para bancar os custos com condomínio, esse valor deve ser coberto pelo dono do espaço vago, diz Gibotti. “O fechamento vem impulsionando custo mais elevados para os shoppings e o faturamento tem ficado aquém do esperado.”
Em um ano, Rio Preto perdeu 887 empresas ligadas ao comércio de todos os segmentos segundo levantamento feito pelo IPC Maps que calcula o número de empresas com base no cadastro CNPJ do Ministério da Fazenda, cruzado com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e atualizado segundo pesquisas feitas no site da Receita Federal. Em 2015, o comércio tinha 26.104 empresas do setor. Em 2016, esse número caiu para 25.227, uma redução de 3,36%.
A maior redução foi entre as empresas do comércio varejista, com queda de 3,4%, passando de 22.044, em 2015, para 21.294, em 2016. Já o número de empresas do comércio atacadista registrou uma queda de 3,13%, passando de 4.060, no ano passado, para 3.933 nesse ano. Esses fechamentos levam também a demissões. Em um ano, o comércio de Rio Preto fechou 838 postos de trabalho com carteira assinada. Esse dado é do último Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado em março.
No entanto, há um movimento contrário acontecendo, garante o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Rio Preto (Sincomercio), Ricardo Eladio Arroyo. “Em nossos levantamentos, identificamos a criação de mais ou menos 1.580 comércios ainda não legalizado só na região norte de Rio Preto. A maioria dessas empresas é de pessoas que perderam seus empregos e começaram seu próprio negócio, pessoa que vão acabar se tornando microempreendedores individuais.”
Negociar pode ser a melhor saída
Negociar melhores valores pode ser uma boa opção para ambas as partes. O lojista reduz seu gasto e o shopping consegue mantê-lo. No entanto, são poucos os empreendimentos que se mostram abertos a essa opção, garante o consultor Fernando Gibotti. “Os investidores, quando constroem um shopping, calculam um tempo para o retorno de seus investimentos. Por isso, é difícil convencê-los a ampliar esse tempo.”
Segundo o consultor, o que alguns shoppings pelo Brasil têm feito é renegociar com seus fornecedores para tentar reduzir os gastos com o condomínio. “Ainda assim, um dos maiores gastos dos centros de compras é com energia e não há muito o que ser feito com isso”, diz Gibotti. Outra dica é buscar soluções em conjunto. Lojistas e shoppings trabalharem para encontrar meios de atrair o consumidor. “É preciso equilibrar os interesses e ser mais criativo”, conclui.
Riopreto Shopping
O Riopreto Shopping foi o centro de compras com o menor número de lojas fechadas: seis. No entanto, o shopping informou que todas já estão locadas, em reforma e se preparando para inaugurar novas operações até julho. “As lojas estão 100% locadas. Os espaços fechados estão em reforma para receber novos empreendimentos de diversas áreas: ótica, sapatos femininos, restaurante, farmácia, fast food e moda fitness”, diz a diretora comercial do centro de compras, Ana Cristina Jalles Guimarães.
As novidades são a churrascaria Brasa Viva, a loja de moda praia New Summer, a ótica Eurolux, a farmácia Farmais, o restaurante Dipz e a loja de sapatos Carbonilla. “O Riopreto Shopping é um shopping totalmente maturado, com clientela fidelizada e localização privilegiada, além de um planejamento de marketing com eventos das mais variadas áreas, como cultura, moda, gastronomia, saúde, social e infantil, que acontecem diariamente no shopping, oferecendo sempre novidades que atraem os clientes”, afirma Ana Cristina. Os investimentos feitos pelos lojistas para as novas operações ultrapassam a casa dos R$ 2 milhões, informou o Riopreto Shopping.
Praça Shopping
O Praça Shopping, que conta com dez espaços fechados, diz ver este movimento de encerramento de lojas como algo natural em centros de compras. “A rotatividade de lojas satélites, ou seja, aquelas que complementam o mix do empreendimento, é vista como algo do próprio negócio. Por diversas razões, alguns lojistas encerram suas atividades dentro de um determinado empreendimento ou mercado.
Seja por questões de planejamento, mudança de segmento, questões de gestão entre diversos motivos. O que acontece em um momento onde a economia está desacelerada é que a reposição destas lojas se torna mais lenta”, disse Marcos Fernandes, diretor superintendente do Praça Shopping. Segundo ele, esses espaços fechados não chegam a preocupar por conta da demanda constante de busca por espaços dentro do empreendimento.
“O que acontece é que ao final de 2014 o empreendimento passou por um processo de modernização em suas instalações, o que nos levou a reformular nosso perfil desejado de operações.” Com essa mudança de perfil, o Fernandes afirma que o shopping está em busca de operações mais específicas, que possam agregar valor comercial ao empreendimento, seja por ticket médio ou por atratividade de fluxo.
Iguatemi
O Iguatemi de Rio Preto é um dos shoppings que sofreu com as reestruturações de algumas grandes marcas, como a C&A e a Luigi Bertolli, que fecharam lojas em todo o Brasil, inclusive aqui. Na visita do Diário ao centro de compras, que é o mais recente na cidade, foram contabilizados 31 pontos sem uma loja funcionando. Segundo o shopping, esse é um movimento natural do setor.
“O ciclo de renovação de lojistas é natural e importante para que os empreendimentos sempre tragam novidades para os clientes. Assim, sempre temos um bom motivo para que eles retornem e apreciem o que acaba de chegar”, informou o Iguatemi. Ainda sobre as lojas não ocupadas, o centro de compras disse que são reservas técnicas. Alguns desses espaços são para marcas que estão com contrato já fechado e outros são reservados para aquelas que o shopping deseja ter.
“A relação estabelecida entre o shopping e os nossos lojistas é de longo prazo. Ela é fortalecida naturalmente, afinal eles acompanham conosco o dia a dia. Temos uma intensa agenda de atividades que propiciam o crescimento orgânico do empreendimento. Elas movimentam o fluxo e trazem ainda mais clientes”, diz Paulo Tilkian, gerente geral do Iguatemi.
Plaza Avenida
O Plaza Avenida Shopping, na contagem do Diário, foi o centro de compras com o maior número de espaços sem ocupação, em torno de 60. No entanto, o shopping afirma que o total de lojas sem funcionamento é 30. A contagem feita pelo Diário levou em consideração a divisão dos tapumes, mas o empreendimento afirma que existem lojas reservadas que ocupam três ou mais tapumes. “Aproximadamente 90% da Área Bruta Locável está ocupada, funcionando ou em reforma/obra.
Aproximadamente 10% está disponível para locação”, informou. A maior pare desses espaços fechados esta na expansão, inaugurada em abril do ano passado. Segundo o novo gerente geral do Plaza, Wilson Pelizaro, a expansão cria um cenário atípico em comparação aos demais shoppings da cidade.
“Quase dobramos de tamanho. As negociações, principalmente com as âncoras, são processos mais morosos, com muitas exigências, padrões arquitetônicos, logística de estoque. Além disso, espaços de lojas menores, por exemplo, muitas vezes são reservados por empreendedores que possuem vários negócios, e eles aguardam um período de maturação para avaliar qual a melhor opção para instalar naquele local. Com relação à prospecção de novas lojas, estamos negociando com empreendimentos que analisamos como carentes em Rio Preto”, diz.
Cidade Norte
O Shopping Cidade Norte contava com nove espaços fechados no dia em que o Diário esteve no centro de compras. No entanto, o empreendimento afirmou que está sempre em busca de novas marcas para evitar pontos de vacância. “Prova disto foi a abertura das lojas Natura e Melissa, que iniciaram suas atividades com sucesso no shopping recentemente.”
Mas o shopping reconhece a dificuldade imposta pelo cenário de crise nacional. “Foi um desafio para o empresário que não possuía reservas o suficiente para enfrentar momentos de turbulência prolongada. Assim, a falta de estabilidade fez com a situação se agravasse em 2015 com algumas empresas encerrando suas atividades.” Segundo nota divulgada, dos nove espaços vagos atualmente, seis já foram comercializados e aguardam reformas para inauguração. Os outros três estariam em fase final de negociação.
Para evitar que a situação piore, o shopping informou que disponibiliza assessoria constante a todos os lojistas “evidenciando os pontos onde cada um pode melhorar, potencializando sua atividade de mercado. Além disso, o shopping realiza frequentes e constantes ações comerciais para atrair seu público alvo, ampliar o número de visitantes e oferecer a eles experiências completas de vivência e bem-estar que se revertam em compras”, afirmou em nota.